“Ora, vós tendes a unção da parte do Santo, e todos tendes conhecimento. (…) Estas coisas vos escrevo a respeito daqueles que vos querem enganar. E quanto a vós, a unção que dele recebestes fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como vos ensinou ela, assim nele permanecei. E agora, filhinhos, permanecei nele; para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança, e não fiquemos confundidos diante dele na sua vinda.” (I João 2:20,26-28)
Temos aqui mais um conceito vindo do Velho Testamento que é repetidamente mencionado nas igrejas nos últimos dias: a unção. O que significava a unção no Velho Testamento? E o que significa para nós, na Nova Aliança?
No Velho Testamento, a unção era um mandamento aplicado em três casos, como veremos (há um quarto caso, mas é tão particular que deixarei de lado por agora — ainda que se aplique de igual modo no contexto do Novo Testamento). O primeiro caso era uma unção com óleo aromático especialmente preparado, e sua finalidade primeira era a consagração de um sacerdote:
“Depois tomarás as vestes, e vestirás a Arão da túnica e do manto do éfode, e do éfode mesmo, e do peitoral, e lhe cingirás o éfode com o seu cinto de obra esmerada; e pôr-lhe-ás a mitra na cabeça; e sobre a mitra porás a coroa de santidade; então tomarás o óleo da unção e, derramando-lho sobre a cabeça, o ungirás. Depois farás chegar seus filhos, e lhes farás vestir túnicas, e os cingirás com cintos, a Arão e a seus filhos, e lhes atarás as tiaras. Por estatuto perpétuo eles terão o sacerdócio; consagrarás, pois, a Arão e a seus filhos.” (Êxodo 29:5-9)
No mesmo texto temos a segunda unção, feita com o mesmo óleo e o sangue de um carneiro sem defeito, para santificação dos mesmos sacerdotes:
“Depois tomarás o outro carneiro, e Arão e seus filhos porão as mãos sobre a cabeça dele; e imolarás o carneiro, e tomarás do seu sangue, e o porás sobre a ponta da orelha direita de Arão e sobre a ponta da orelha direita de seus filhos, como também sobre o dedo polegar da sua mão direita e sobre o dedo polegar do seu pé direito; e espargirás o sangue sobre o altar ao redor. Então tomarás do sangue que estará sobre o altar, e do óleo da unção, e os espargirás sobre Arão e sobre as suas vestes, e sobre seus filhos, e sobre as vestes de seus filhos com ele; assim ele será santificado e as suas vestes, também seus filhos e as vestes de seus filhos com ele.” (Êxodo 29:19-21)
Os homens assim ungidos não podiam sair mais da tenda da revelação, sob pena de morrerem — eles eram, assim, totalmente consagrados e separados para o ministério:
“E não saireis da porta da tenda da revelação, para que não morrais; porque está sobre vós o óleo da unção do Senhor. E eles fizeram conforme a palavra de Moisés.” (Levítico 10:7)
Havia ainda uma terceira unção possível, feita com azeite, para confirmação de um rei:
“Disse Samuel a Saul: Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois, agora as palavras do Senhor.” (I Samuel 15:1)
Assim, temos a unção em três casos possíveis: na consagração dos sacerdotes, na santificação destes, e na confirmação de um rei.
Mas o próprio Velho Testamento nos dá um vislumbre da unção do novo, quando um homem segundo o coração de Deus é ungido rei:
“Então Samuel tomou o vaso de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.” (I Samuel 16:13)
Vemos então cumprirem-se em Cristo, a raiz de Davi, o Ungido de Deus (pois Cristo significa ungido), as três unções do Velho Testamento — pois ele foi consagrado a Deus, e santificado como sacerdote, ainda que segundo a ordem de Melquisedeque; e não o foi com óleo e sangue de carneiros, mas com o Espírito Santo, e com seu próprio sangue. Da mesma forma, ele foi ungido Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, não com qualquer azeite, mas com o poder do Espírito Santo, que o ressuscitou dentre os mortos.
“Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor. E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos.” (Lucas 4:17-21)
“…concernente a Jesus de Nazaré, como Deus o ungiu com o Espírito Santo e com poder; o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele.” (Atos 10:38)
Assim, Cristo cumpriu em si toda a lei quanto à unção, para ser capaz de nos prover com um sacrifício eterno, com um perfeito sacerdócio, e com a unção que permanece; uma unção que não somente nos consagra e santifica, mas que nos capacita a sermos reis e sacerdotes para com Deus, através da vida de Cristo em nós; e essa unção é o outro Consolador, o Espírito Santo, no qual o Senhor Jesus foi ungido rei e sacerdote, e no qual somos ungidos, de igual forma, reis e sacerdotes, para glória de Deus. Assim, não temos necessidade de mais nenhuma unção, de nenhuma forma, senão como símbolo do que o Senhor já fez em nós; Deus não nos dará uma nova unção, como também não proverá para si mesmo um novo sacrifício, ou um novo sacerdote; se encontramos o sacrifício perfeito em Cristo, e nele também o sacerdócio eterno, nele, o primeiro Consolador, encontraremos a unção que permanece, na pessoa do Espírito Santo, que ele mesmo enviou para habitar em nós.
“Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e nos ungiu, é Deus, o qual também nos selou e nos deu como penhor o Espírito em nossos corações.” (II Coríntios 1:21-22)
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.” (I Pedro 2:9-10)
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