Minha esposa me interpelou
hoje pela manha acerca do texto de 2 Sm 12:8 e por isso resolvi escrever o que
penso a respeito do texto.
Para oferecer uma perspectiva adicional para
esta questão muito importante, digo "significativo" que se pode
legitimamente questionar a um Deus que aprova a prática da poligamia e
declara-lo como mais um falso deus nesta celeuma de deuses apresentados ao
homem nos tempos atuais. Mas o verdadeiro Deus não aprova, embora vemos Ele
tolerando tal prática.
Pelo valor de face, esta
passagem bíblica parece sugerir que Deus deu a Davi várias esposas, e ainda
estava pronto para adicionar ao seu harém com sanção divina quantas mais ele
quisesse. Claro, isso é precisamente o problema com a expressão da Escritura
que nos põe em um labirinto de maneira literal, porque, na verdade, se as
palavras de Natã são qualquer coisa, elas são no minimo irônicas. Davi tinha ‘’apenas’’
assassinado um homem, a fim de ter outra mulher anexado ao seu harém. Apesar da
generosidade do próprio Deus, que é o soberano da terra, o rei havia roubado a
esposa de um servo seu, servo este tido como um ‘’valente de Davi’’ e que, para satisfazer seu desejo carnal, o
assassinara. Assim, em uma linguagem que pingava com ironia, o profeta Natã
pronuncia julgamento contra o rei de Israel. Como tal, 2 Samuel 12 dificilmente
constitui aprovação divina para a prática da poligamia.
E este não é um caso
singular. Tal como acontece com Davi, Salomão, seu filho, fez extravagâncias na
multiplicação não só de cavalos e outros animais, mas multiplicando para si esposas,
e isso foi um fator significativo para o desenrolar de seu reino. Quem pode
esquecer a advertência explícita de Moisés, em Deuteronômio 17:17: Não multiplicar esposas ou seu coração será
desviado! Se isto se aplica aos grandes reis de Israel, quanto mais os
assuntos do reino. Além disso, o casamento monogâmico é claramente ensinado em
Gênesis (2:22-24), e depois reiterado pelo próprio Cristo atraves do Apostolo
Paulo em 1 Tm 3:2 e varios outros textos neotestamentários. De fato, Jesus
passou a dizer que, "qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa
de infidelidade, e casar com outra, comete adultério" (Mateus 19: 9), mas
a despeito dessa suposta razão para o divorcio, logo em seguida o próprio Jesus
afirma que no principio não era assim, sugerindo que na realidade mesmo havendo
impureza carnal, o melhor é relevar, perdoando, uma vez que Jesus diz
...perdoai e sereis perdoados Lc.6:37. Não só isso, mas o casamento é uma
analogia para a relação que Deus tem com o seu povo, com a Igreja, o Seu único
noivo Jesus Cristo.
Além disso, a leitura da
Bíblia para que todo seu valor seja alcansado envolve reconhecimento de que as
narrativas da Bíblia são muitas das vezes descritivo ao invés de prescritivo. O
fato de que a Escritura revela os patriarcas com todas as suas verrugas,
cicatrizes, pintas e rugas é para nos avisar de suas falhas, não é para nos
ensinar a imitar suas práticas. Longe de pintar o comportamento poligâmico de
Davi como correto, a Bíblia revela que, como resultado de seu pecado, a espada
jamais saiu de sua casa.
Finalmente, deixe-me dizer
isto; Como Moisés permitiu o divórcio por causa da dureza do coração dos homens,
sendo tolerado por Deus, assim também o próprio Deus tolerou a poligamia por
causa da teimosia insolente da humanidade. De fato, Deus faz com que até mesmo
a ira do homem seja capaz de agradá-Lo. Assim, em Seus propósitos soberanos,
ele poderia muito bem ter tolerado a prática da poligamia com o propósito de
proporcionar estabilidade econômica e de segurança para as mulheres presas
dentro dos limites de uma sociedade patriarcal, ressaltando o fato de que
devido as muitas batalhas daquela epoca, muitas mulheres ficavam viuvas muito
cedo. No entanto, como a história da redenção revela, Deus não simplesmente
deixa o Seu povo, onde eles estão, mas Ele
se move para santificá-los. No esplendor das Escrituras, as mulheres são
elevadas a partir dos limites de uma sociedade patriarcal ao status de
igualdade ontológica completa com os homens. Como tal, o apóstolo Paulo de
forma definitiva, diz assim: como não há escravos nem livres, assim também não
há homem ou mulher, mas todos são um em Cristo (Gl 3:26-28). De fato, pode-se
bem dizer que as palavras de Paulo em Efésios 5 têm enobrecido e conferido
poder às mulheres onde elas são consideradas co-trabalhadores em Cristo com os
mesmos homens que são instruídos a abandonar os seus direitos para com elas
instruindo os mesmos a amá-las.
Não podemos nos esquecer a
grande diferença que há entre a forma como Deus se manifesta no Velho
Testamento e a forma como Ele se manifesta no Novo.
No Velho o homem era
condenado se pego na prática do pecado, um exemplo claro é a questão do
adultério, pois só se apedrejaria um homem e uma mulher caso eles fossem pegos
durante a pratica da conjução carnal entre ambos, boatos, denuncias não
evidenciavam a pratica do adultério, enquanto no Novo, Jesus disse em Mt 5:28
que só o fato de olhar e pensar já se cometeu o adultério. Provando que quem de
fato julga o homem não é outro homem e sim o próprio Deus Onisciente que vê
todas as coisas no céu, na terra e no inferno.
Ao explicarmos essa
diferenca entre a forma de Deus trabalhar em ambos os testamentos não sugere
que Deus muda em sua concepção, e sim evidencia o tamanho da sua misericordia
para com a humanidade. Num temos a lei ditando os procedimentos do homem e
noutro a Graça evidenciando nosso relacionamento direto com o Deus. O véu do
templo foi rasgado! Aleluias, agora temos acesso ao Santissimo lugar.
Na lei para ser pecado
necessitava de se provar a transgressão de algo definido como certo e na graça
a própria conciencia é que nos julga primeiro, lembra do texto, ...se julgarmos
a nós mesmos não seremos julgados de 1Co
11: 28-31?
Abrace os ensinamentos
revelados ao homem atraves da Biblia e viva feliz consigo mesmo e com o
Criador!
No amor de Cristo.
Rev. ELIMAR GOMES ALVES
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