Esta
é a época em que os profetas de plantão saem das tocas. Quando eu era jovem os
astrólogos dominavam a cena. Omar Cardoso era uma celebridade nacional no meio
de uma constelação meio obscura de personalidades que pontificavam as previsões
para o ano seguinte. Estes escreviam também, religiosa e mercenariamente,
em todos os sentidos, as inúteis colunas de horóscopos, de ávida leitura
obrigatória em todos os jornais e revistas.
Não sei muito bem o que
aconteceu, mas eles saíram um pouco de cena. Sei
que ainda estão presentes e muitos os seguem, mas não têm a mesma notoriedade
ou repercussão do passado. O país ficou mais cético? Talvez. É possível, também,
que a prática de algumas revistas, de compararem as previsões com as
realizações, contribuiu para um descrédito maior destes futurólogos, ainda que
as Ana Maria Bragas da vida continuem a promovê-los, junto com numerólogos,
grafólogos e outras sandices do gênero.
Suspeito, entretanto, que com a
multidão de apóstolos, reis, vice-deuses, operadores de maravilhas e
propagadores de prosperidade, que pululam o nosso mundo evangélico uma classe
esteja substituindo a outra. Acho que muitos
líderes evangélicos pensaram: “por que deixar o monopólio das predições só para
eles? Vamos pegar uma fatia desse interesse”. Afinal estamos na era dos sete
passos para isso, dez degraus para aquilo, cinco princípios para a prosperidade
total, e por aí vai. O fato é que não há carência de profecia, nesta terra,
ainda que de evidente procedência humana. E nesse campo, a credulidade é
espantosa – muitos continuam ansiosos para saber o que vai acontecer no mundo,
no país e em suas vidas.
Vou fugir um pouco da nossa linha
reflexivo-crítica e, para não ficar de fora da onda do momento, farei dez
previsões para 2013. Podem me responsabilizar
por elas, mas deem uma trégua até dezembro do ano que vem, pelo menos.
O que vai acontecer, então, em 2013?
1.
A corrupção vai continuar. Ou vocês acham que ela acabou com o julgamento do
mensalão? Os escândalos continuarão aflorando, ainda que a chamada
“sociedade” esteja mais antenada e a imprensa gostando do aumento de circulação
que essas notícias propiciam. Vemos apenas um pedacinho do iceberg e a parte
submersa é mais volumosa, destrutiva e letal. Para os cristãos, isso não
deveria ser surpresa, pois a corrupção está enraizada no coração das pessoas –
até no daquelas que criticam os corruptos públicos, ou pegos com a mão na
botija. Jeremias 17.9 diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá”?
2.
Os preços vão aumentar. Ainda que se propague que a inflação está “sob
controle”, os indicadores registram aumentos incompatíveis com uma economia
estável e os preços dos serviços aumentam acima deles. O dólar continua
subindo e algumas vozes iluminadas no governo defendem um patamar de R$2,40 –
insensíveis à dependência que os demais preços possuem do relacionamento
cambial. Sobe o dólar e tudo fica mais caro e mais difícil. A voracidade de
taxação do governo está também sempre presente e chegam a ser cômicas, se não
fossem trágicas, as “soluções” estatais para controlar os preços: aumenta-se a
alíquota do IPI (como no caso dos automóveis chineses) e depois dá-se um
desconto, por decreto, por um tempo. Enfim, nada mudou no governo desde o tempo
em que o povo de Israel clamava por um Rei e foi avisado pelo profeta Samuel
que não se esquecesse de que a máquina governamental iria sugar milhões para se
sustentar, pela opressão fiscal. Em 2013, o governo continuará voraz e todos
nós pagaremos uma conta cada vez maior. A realeza do Real está cada vez
mais diluída, relembrando Isaías 1.22: “A tua prata se tornou em escórias”.
3.
A vida vai permanecer difícil com tribulações, enfermidades, injustiças. Cresce
a expectativa de vida, avança a medicina, organiza-se o poder judiciário, mas
as agruras desta vida, consequência genérica do pecado (nem sempre específica,
na vida dos que sofrem) são realidade incontestável. “No mundo passais por
aflições”, já alertava Jesus (João 16.33). A criação “geme e suporta angústias
até agora” ansiando pela “redenção”, ensina Paulo (Romanos 8.22 e 23). Assim
desconfie daqueles que prometem a tranquilidade e saúde aqui na terra. Isso não vai ocorrer
em 2013.
4. A violência não vai dar muita
trégua. Vivemos em uma era onde os governantes
acham que têm direitos (e não, necessariamente, responsabilidades) sobre tudo e
a necessidade de exercer o controle sobre todos. Na prática, os
governantes terminam fazendo pouco e mal. Esquecem-se da responsabilidade
primordial (Rom 13.1-7), que a de serem “vingadores” dos inocentes e garantir a
segurança dos seus cidadãos. Os cristãos não deveriam promover (e nem confiar
em) um estado messiânico, na esperança de que todos os seus problemas serão
supridos por um poder terreno, falível e temporal. Enquanto estimulamos os
governantes a se ocuparem de tudo (ou não os desestimulamos de fazer isso),
eles descuidam da segurança. Em 2012 ficou evidente que o governo não se ocupou
adequadamente nem conseguiu garantir a vida de seus próprios integrantes, haja
visto as inúmeras execuções sofridas pela força policial de vários estados,
quanto mais a nossa! As perspectivas para 2013 não são nada animadoras, em um
país onde ocorrem mais de 50 mil assassinatos por ano, a maioria dos quais sem
qualquer punição. Uma situação para pensarmos cada vez mais na paz real, que
vem de Jesus (João 14.27) – “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la
dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.
5. Os engarrafamentos vão piorar
– Em São Paulo existe um veículo para cada dois habitantes. A cada dia cerca de 500 veículos novos começam a circular
em suas vias. Nas grandes capitais a média diária de veículos novos que
adentram as ruas é quase essa, pois a proporção por habitante é ainda menor. Em
minhas viagens já vi que engarrafamentos, que eram uma característica típica de
São Paulo, há algumas décadas, já são uma constante no Rio, Recife, Brasília,
Aracajú, Porto Alegre e tantas outras grandes cidades do nosso país. Está cada
vez mais difícil se locomover e a cada dia é mais importante morar perto da
escola ou do trabalho. Alguns companheiros mais ousados deixaram os carros para
trás e recorreram às motos, para o transporte diário: que estes sejam alvo de
redobradas orações! Nessa situação é preciso o desenvolvimento crescente da
virtude da paciência, bem como o exercício da criatividade, para que a hora
perdida no trânsito seja ganha de alguma maneira. Que tal uma resolução para
2013, de se ouvir a Palavra, ou um “podcast” que edifique? Pense no Salmo
119.48: “... levantarei as mãos e meditarei nos teus decretos”, mas conserve as mãos
no volante!
6. Os vendedores de felicidade
“aqui e agora”, o engano do evangelho da prosperidade vai permanecer. Alguém poderia fazer o prognóstico que a farsa mercantilista
da “felicidade já” terá vida curta, pois, pragmaticamente, as pessoas
constatarão a falsidade das promessas. Mas parece não haver limite ao desejo
das pessoas de ouvirem coisas agradáveis sobre os seus dias futuros,
principalmente se há apelo às recompensas materiais. Em paralelo, esse tipo de
mensagem traz muito lucro aos proponentes, O curioso apelo de que “não deixe
esse programa sair do ar” (para que possa continuar transmitido a pedir mais e
a vender mais), continuará em 2013. Personalidades do campo evangélico que, no
passado, rejeitaram essa fórmula claramente pagã continuarão a ser cooptados
por ela, desviando o foco das verdadeiras necessidades das pessoas, como
identificou apropriadamente Cristo, no caso da Mulher Samaritana (João 4.13-14)
– a “água viva” que mata a sede para sempre. Em 2013, espere a continuidade da
parada televisiva diária, e das grandes cruzadas dos propagadores de
felicidade: mensagens terrenas, com linguajar evangélico.
7. As teologias e explicações
humanas aos fenômenos da natureza permanecerão pródigas, no ministério de
alguns. A virada do ano (2012-2013)
trouxe um filme – “O Impossível” – que poderosamente nos relembrou dos
acontecimentos do Natal de 2004, quando um Tsunami devastou a vida de quase 300
mil pessoas nas costas da Indonésia e Tailândia, bem como de outros países e
ilhas circunvizinhas. Ainda que as imagens do Tsunami de 2011, no Japão, sejam
mais poderosas, a tragédia de 2004 se constitui uma das mais perturbadoras na
história da humanidade. Mas isso nos lembra, também, os teólogos relacionais
(ou da teologia do processo), que retiram de Deus qualquer poder sobre as
questões futuras. Para essas e outras tragédias, recorreram a explicações
simplistas e naturalistas, dizendo que “Deus não tem nada com isso”,
contrariando as afirmações bíblicas de que ele é Senhor Soberano sobre toda a
criação, inclusive sobre as forças “da natureza”. Em 2013, esses teólogos
continuarão fazendo estragos e desviando a muitos; procurando aquietar a
própria perplexidade perante essas situações, preferem recorrer aos devaneios
da mente, em vez de se renderem às afirmações da Palavra inspirada de Deus
(Salmo 29.3; Isaías 29.6; Jonas 1.4).
8. As igrejas irão buscar mais e
mais formas de entretenimento; as mensagens ficarão mais curtas; os caminhos da
graça, mas distantes da Palavra. Agora
que a chamada grande mídia, com os olhos na lucratividade do segmento, abraçou
com todas as honras o segmento gospel; nestes tempos em que a adoração dá lugar
às celebridades e à chamada “celebração”; nestes momentos em que se diluem os
limites entre o espetáculo e o culto devido ao Senhor; devemos esperar uma
intensificação do entretenimento nas igrejas, como se fosse apenas uma maneira
mais contemporânea de cultuar. Preparem os ouvidos. Coloquem os óculos escuros.
Tragam os decibelímetros. O volume vai aumentar. As coreografias vão se
expandir. A prosseguir a tendência, as igrejas vão gastar mais dinheiro na
iluminação e nos efeitos do que na parafernália eletrônica de amplificação. E o
que vai ser sacrificado? A pregação, é claro! Está cada vez mais fora de moda,
ainda que Deus especifique, em sua Palavra, que é o método determinado por ele
para a propagação de suas verdades (Romanos 10.13-15). Ela vai sendo encurtada
e a congregação “entregue” ao pregador depois de exaurida física e
emocionalmente durante uma hora e meia, para uns minutos finais, como se fosse
só para desencargo de consciência. Adentramos, assim, a zona perigosa de
manifestações cúlticas de grande intensidade, mas que desagradam a Deus; onde a
verdadeira adoração está ausente, como nos tempos de Amós (5.23 e 6.5), onde
havia abundante louvor e transbordante música instrumental: “Afasta de mim o
estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras”.
Deus fala contra os que cantavam “à toa ao som da lira”, pois era tudo
centralizado na auto-gratificação e entretenimento: diz o profeta que a
intenção não era o louvor a Deus, pois inventavam “instrumentos musicais para
vós mesmos”. E há, ainda, os que procuram se dissociar dessa corrente, mas
apontam caminhos da graça estranhos aos da Palavra de Deus e à graça das
Escrituras; com palavras que se alternam entre a virulência e a aparente
piedade, mas que patinam entre a acomodação e encorajamento de formas comportamentais
e sociais condenadas na Bíblia. A julgar pelo crescente número de seguidores e
defensores, 2013 certamente será um ano “de arromba”, para esses segmentos do
evangelicalismo contemporâneo.
9. A ira inconsequente e
difamações de alguns profetas do caos, dentro do campo evangélico, permanecerão
sendo lançadas contra servos fiéis. Virou
moda, para alguns expoentes no campo evangélico, voltar os canhões da agressão
contra servos fiéis, propagadores da palavra de salvação, defensores da
teologia da reforma, difamando-os como “mundanos”, inconsequentes, protetores
dessa ou daquela corrente – simplesmente por não compartilharem com a
metodologia e mensagem agressiva abrigada por esses vasos de ira. 2013 não dá
mostras de que esse recurso destinado à manutenção dessas figuras
controvertidas no ápice da notoriedade, pela controvérsia, vai desaparecer,
ainda que os tiros costumem sair pela culatra. Esses profetas do caos
continuarão disparando antes de examinar; exibindo uma suposta coragem, que
acomoda, na realidade, uma covardia de métodos e ausência de princípios;
preferindo alianças políticas, e pseudo-espirituais, espúrias à verdadeira
comunhão dos santos. Em 2013, não nos esqueçamos de Tito 3.10: “Evita o homem
faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez”. Evitemos aqueles que
não se importam com as advertências de Tiago (3.14): “Se... tendes em vosso
coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem
mintais contra a verdade”.
10. No entanto – no meio das
perturbações e confusões deste mundo, em 2013, a graça de Deus continuará a ser
manifestada – até que Ele cumpra os seus propósitos em sua criação. Não; nem tudo é sombrio no horizonte próximo, ou tem teor
negativo. Podemos identificar os seguintes sinais encorajadores e positivos na
igreja de Cristo, para o ano de 2013:
a. Renascimento de um interesse
saudável pela sã doutrina: creio que nunca houve tanto interesse pelo
estudo sério da Palavra de Deus e das doutrinas cardeais da fé cristã; dos
pilares redescobertos pela Reforma do Século 16, do que nos dias de hoje. Não me refiro a números espetaculares, mas a um segmento
firme, interessado e fiel, que tem abordado a Palavra de Deus com seriedade.
Esse grupo surge em várias denominações e nele encontramos inúmeros JOVENS! Uma
juventude que dialoga, se reúne e pesquisa a Bíblia; que emprega tempo em
evangelização; que se preocupa em agradar a Deus e em tomar conta de suas
vidas, além da doutrina, como nos instrui Paulo (1 Timóteo 4.16). As palavras de 1 João
2.14 soam muito bem para 2013, pois creio que essa tendência continuará
crescendo: “Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus
permanece em vós, e tendes vencido o Maligno”.
b. Pais criando os filhos – cerrando
as trincheiras da família: O ataque institucional contra a família vem levando
muitos pais a reconhecerem a necessidade de se empenhar mais, de lutar, de se
envolver com mais intensidade na defesa da família. Em 2013 creio que veremos cada vez mais pais conscientes
dessas responsabilidades. Incrivelmente, até entre pais descrentes encontramos
aqueles que querem algo diferente para seus filhos.
c. Testemunho dos cristãos na
sociedade – contra aborto e a dissolução sexual. Em paralelo ao fortalecimento da família, pelos cristãos,
o mundo evangélico toma consciência de que, como cidadãos, precisam dar um
testemunho mais intenso e eloquente. A sociedade já abriga o divórcio
automático; já há a aceitação tácita do aborto, a caminho da legalização geral;
e a instituição do casamento está sendo redefinida, já não mais se segue a
definição bíblica (e constitucional) de união entre um homem e uma mulher, mas
as portas estãos escancaradas para a legalização e aceitação, como natural, do
casamento homossexual. Em 2013 a voz dos cristãos continuará ressoando, ainda
que eu tenha convicção de que esse é o grande teste para a Igreja – quando
legalizarem algo claramente contrário à Palavra, quantas terão coragem de se
manter fiel às diretrizes divinas?
d. Escolas Cristãs – Já há
algumas décadas a multiplicação de escolas cristãs vem ocorrendo. Pedagogos cristãos vêm reconhecendo a necessidade de
abordar o campo educacional sob uma cosmovisão cristã. 2013 verá um aumento
desses esforços e a multiplicação de materiais didáticos abordando todas as
áreas de conhecimento com premissas cristãs. Creio que a influência, nessa
esfera, não somente cruzará linhas denominacionais, como transcenderá o campo
evangélico em futuro próximo, pela qualidade do material e dos pedagogos
envolvidos nesses programas.
e. Mídia social e Internet como
meio de evangelização e instrução – A internet, considerada por muitos
como uma maldição, pode sim ser instrumento de bênçãos e de evangelização. Em 2013 as redes sociais serão utilizadas com mais
objetividade e de maneira mais abrangente, especialmente pelos jovens. Uma
pessoa pode alcançar muitas, se fizer com jeito, cuidado e competência. Uma
mensagem pode atingir repercussões positivas inesperadas. O cuidado a ser
tomado, é o de não considerar esse tipo de relacionamento como substituto das
interações pessoais, pessoa a pessoa; nem como substituto da pregação, como já
observamos.
f. Mais e melhor literatura
cristã de boa qualidade. Pela graça de Deus,
mesmo no mar de publicações inconsequentes, muitos livros cristãos bons têm
sido publicados, divulgados e adquiridos. Editoras sérias e fiéis têm se
mantido sustentáveis. Conferências de porte têm sido realizadas, divulgando
essas publicações e autores internacionais. Autores brasileiros têm surgido,
alguns com repercussão internacional. 2013 verá a expansão dessas publicações e suas
atividades correlatas.
g. A graça comum possibilitará
freio a muita criminalidade, pela exposição dos praticantes – quando
parece que o pecado “corre solto”, Deus, em sua misericórdia pela sociedade
providencia exposição para que muitos vejam que esses delinquentes não são
invisíveis. Por vezes nos surpreendemos
com a graça divina que distribui a bênçãos a todos, mas a Bíblia diz (Mateus
5.45) que Deus “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos
e injustos”. É ele, também, que restringe o pecado, para que os seus propósitos
sejam cumpridos. Devemos ser mais perceptíveis dessa graça comum, e, em 2013, agradecer
continuadamente a Deus, pois é ela que possibilita, também, a nossa existência
em um mundo tenebroso.
São
essas minhas profecias para 2013. Sem horóscopo, sem mágicas, sem revelações
espúrias; apenas observando o contexto e o mundo em que vivemos, e a forma como
estamos sendo sustentados pela verdadeira graça divina. É esse poder de Deus
que entrelaça os fios de nossas vidas em uma maravilhosa obra de arte, como já
observou Edith Schaeffer em seu livro The Tapestry.
Material copilado e adaptado do texto escrito por Solano Portela.
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Deus te abençoe!